Dr Joselito responde… Como a Dengue pode prejudicar um piloto de parapente?

May 11, 2015 No Comments by

Esse post foi colocado em 2011… Esportes de alto risco = alto risco de sangramento! Quando estiver treinando ou competindo em áreas endêmicas para Febres Hemorrágicas Virais(Ex.: Dengue), ao primeiro sinal (qualquer dor e/ou febre e/ou dor de cabeça, etc)… Verifique seu nível sanguíneo de plaquetas (células que fazem um ferimento parar de sangrar)! Se houver acidente de pilotos de parapente (queda de paraglider) é obrigatória a realização de: contagem de plaquetas, hematócrito e tomografia computadorizada.

EM CASO DE QUEDA DE PARAGLIDER É OBRIGATÓRA A REALIZAÇÃO DE TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA DE RETROPERITÔNEO.
Atenção: O retroperitôneo é uma região que sofre com o impacto da queda podendo apresentar sangramentos expontâneos lentos e de diagnóstico demorado. Resumindo… 1)Politrauma ou mesmo acidente sem dano aparente (queda de paraglider por exemplo) em área endêmica: repouso absoluto, contagem de plaquetas, hemogramas diários por pelo menos 3 dias consecutivos e tomografia computadorizada de retroperitônio (se houver plaquetopenia). 2)Politrauma na vigência de dengue: monitorar sangramentos, principalmente os ocultos; monitorar plaquetas, hematócrito e leucócitos; fazer uma boa cobertura antibiótica (Gram+, Gram-, além de anaeróbios) devido à leucopenia da dengue.

Nem sempre as doenças de incidências diferentes ocorrem isoladamente ou seja, só abruptamente ou só lentamente. Pode também vir concomitantemente como por exemplo dengue e acidente. Segue um exemplo de acidente durante uma regata: De manhã já havia acordado com certa sonolência (Que soneca que nada, depressa para a marina!) mas foi velejar sem se preocupar. Durante a navegação não estava “rendendo” o normal quando, para piorar, uma retranca o atingira a cabeça. Apesar de um pequeno sangramento, continuou participar da competição. Alguns minutos mais tarde percebeu que o sangramento estava demorando a parar, que estava ficando tonto e assim resolveu avisar o tático que precisaria chamar o “Doc”. Assim que o inflável chegou ele já deixou o barco e foi atendido pelos médicos da Marinha de Guerra do Brasil e pela “DOC”. Queixava-se… “Tanto investimento dos patrocinadores, um evento de repercussão mundial e isso me acontece. Que falta de sorte”. Foi levado à UTI Móvel de plantão no Yacht Club e removido ao Pronto Socorro da prefeitura onde entrou em coma, foi hospitalizado e internado no CTI.
Resultado da investigação clínica: 1)dengue com plaquetopenia severa que manifestou-se como adinamia; 2)a adinamia pode ter gerado desatenção; 3)desatenção por sua vez pode ter sido a causa do acidente já que todos os demais tripulantes não se acidentaram; 4)devido à plaquetopenia o sangramento(causa de pedir assistência médica) não coagulou ou seja, não parou espontaneamente; 5)houve uma hemorragia sub aracnóide devida ao traumatismo na cabeça 6) a hemorragia cerebral foi exacerbada devido à plaquetopenia e ao consequente tempo de sangramento aumentado; 6) um grande coágulo se formara comprimindo o cérebro; 7) o início da compressão cerebral pela hemorragia foi a causa da vertigem inicial (também causa de pedir assistência médica);  8) seu “estado de coma” deveu-se ao enorme coágulo; 9)o coágulo teve seu tamanho aumentado devido à presença concomitante de dengue e sua consequente plaquetopenia (40.000 plaquetas).

Outro caso interessante em um campeonato de paraglider… Uma leve dor muscular (típica dos pilotos de paraglider após dias de voo) lhe perturbara pela manhã mas fôra logo esquecida após um Paracetamosl de 750mg e o início dos preparativos para mais uma prova do Campeonato Brasileiro de Parapente que já adentrava em seu 5o. dia de competição. Demoraram horas até que uma primeira “ventaca” lhe tirasse do chão e da consequente insolação e desidratação que isso sempre lhe causava. Mas lá estava ele, num “salão” enorme com todo mundo a “bombar!”. Estava no “primeiro pelotão” quando começou a sentir-se exaurido. Seus braços mal conseguiam segurar os batoques (devido à dor em seus músculos) naquilo que parecia uma tentativa infinita de pousar com o “parapa”. Exausto, foi levado pelo pessoal do resgate ao Hotel onde, assim que possível procurou o “Doc” da DOC Life Support in Adventure Sports. Consulta feita, exames realizados, constatou-se Dengue ao observar-se um exame sorológico específico positivo e uma plaquetopenia (diminuição severa das plaquetas que são fundamentais para a coagulação). O “Doc”, apressado por estar preocupado com os outros pilotos, comentou antes de deixar o quarto: -Você teve sorte em não acidentar-se! O vôo requer muita atenção ao piloto e essa adinamia (fraqueza) do Dengue geralmente deixa-o fraco e desconcentrado, principalmente quando está associada a uma desidratação… Além de desidratado você está com 40.000 plaquetas, que são os elementos sanguíneos responsáveis pela coagulação dos sangramentos… Se você tivesse sido vítima de um politrauma (acidente grave) com ferimentos graves, poderia sangrar sem parar até morrer de choque (pressão arterial muito baixa)!… No “briefing” do dia seguinte a DOC Life Support comentou sobre os cuidados básicos: usar repelentes várias vezes ao dia, hidratar-se constante e suficientemente (3 litros por dia!), usar sempre protetor solar (com FPS maior que 50 para as rampas de decolagem) e principalmente… Avisar tudo ao “Doc”. Até mesmo uma leve dor de cabeça deve ser comunicada pois, se estivessem sem doença, o corpo por sua vez estaria em silêncio (não apresentaria sintomas).


Joselito Fonseca Corrêa
Médico do Pronto Socorro Do Hospital de Clínicas de São Sebastião-S.P.
Membro fundador e responsável médico ABP
www.doclifesupport.blogspot.com
doclifesupport@hotmail.com

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Sobre o Autor

Instrutor de Asa Delta | Parapente pela Confederação Brasileira de Voo Livre "CBVL" e Paramotor | Paratrike pela Confederação Brasileira de Paramotor "CBPM" | APPI PPG.
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