Competição x Reserva by Milton Gonçalves
Antes de mais nada, quem se dispões a competir, deve saber utilizar todos os equipamentos de que seu conjunto dispõe. Isto pressupõe a utilização de manobras de descida, orelha, diferentes tipos de decolagem, diferentes tipos de condição, e também do reserva… A redobragem e pré-check do mesmo, deve ser executado com antecedência e sempre que possível antes da prova… No mínimo aquela “olhadinha” de que está tudo em seu lugar… Há bem pouco tempo, vi pilotos perderem uma boa largada por que o pacote está saindo… ou saiu…. Logo na decolagem e até aqueles que só descobriram ele já aberto em voo… A prática da escola antiga, me faz treinar sempre o “soltar a mão e buscar a alça”, de preferência quando está tudo bem… Este exercício, com o simples objetivo de automatizar o lugar onde devo procurá-lo… Sempre que trocamos de equipamento, podemos e devemos pratica-lo… Com o avanço das tecnologias, muitos pilotos têm procurado novas opções e todos estamos analisando as variáveis que cada nova opção apresenta… Prós e contras ainda tem deixado muitos pilotos na dúvida do que utilizar, mas vale a pena relembrarmos algumas delas.
– tamanho: relativo a carga alar e taxa de queda
– a velocidade de abertura : para aqueles que precisam abrir a baixa altura
– a dirigibilidade: para aqueles que precisarão sair de onde o lançaram
Tive a necessidade de utiliza-lo por 3 vezes, todas a uma altura relativamente pequena, e em todas fui agraciado pelo fator sorte. Nenhum arranhão em todas as 3. Mas um bom “presta atenção” em cada uma delas…. A primeira lição é a de que a decisão é fundamental, e o preparo, o treino citado, e alguns SIVs são fundamentais… A segunda: Pouca altura e acelerador, (mesmo com pilotagem ativa), não combinam. Se for em condição forte então, você pode até ser muito sortudo, mas a chance de NÃO utilizar, é mínima… Sem contar que o ganho em pontos comprovará que não valeu a pena o risco… A terceira: Equipamento só está homologado se utilizado dentro dos parâmetros de homologação.
Na segunda vez que utilizei a ferramenta, ao recolhê-lo, depois de agradecer inúmeras vezes a Deus, percebi que o mosquete que ligava o bridlle ao reserva estava desenroscado e aberto. Eu o havia checado, sabia que não estava “bem” apertado e fiz “vista grossa pro fato, ao invés de tê-lo substituído… Por muito pouco ganhei apenas um amuleto para me relembrar disto e não virei estatística… A quarta: Carregar uma fraldinha extra… Em Araxá, este ano no Brasileiro, utilizei a ferramenta novamente, pois fui burro o suficiente pra esquecer da regra 2 e contando com a sorte foi tudo bem… Como era 2 dia da competição e ainda restavam 5 dias, restabeleci-me do susto, rezei a regra 2, 100 vezes e utiizei a fraldinha e alça reserva que levara… Se não a tivesse, provavelmente teria perdido a chance de aprendizado que foi participar da melhor etapa de campeonato de voo da minha vida até hoje… Obrigado ao Papai-do-Céu que me aparou novamente, à fábrica que pensou na fraldinha e alça reserva, e aos amigos que me apoiaram, me ajudaram a dobrar e incentivaram a continuar naquilo que só quem compete sabe o quanto vale… Espero que este testemuho sirva pra aqueles que de alguma forma desfrutam do presente de poder voar e pensam em competir em algum momento da sua vida… Voar é muito bom, mas deve ser feito dentro de todos os limites, sejam eles, os do equipamento, os da condição, ou os seus… Bons vôos e seguros pousos a todos.
Como me esquecí da Segunda Regra…
O Brasileiro de Araxá este ano, foi de longe a etapa mais disputadas que eu e muitos outros pilotos já disputaram… Provas em condições fortes com 100% de aceleração não garantiram nenhuma chegada no primeiro pelotão… Especificamente na 2a prova, eu havia conseguido me manter no 1 pelotão muito tempo nos primeiros 2 quartos da prova, o que garantem uma boa pontuação de liderança, se vc conseguir chegar bem no goal, logicamente… A Partir do ultimo pilão, eu e o Richard aproveitamos uma bobeira do 1 pelotão e conseguimos bater o penúltimo pilão desgarrando do grupo e aproveitando um novo ciclo que parecia tomar todo o resto da prova, que já estava no visual… Richard, escolheu uma rota mais aberta e eu aproveitei indo diretamente pro goal. Como andamos 90% do tempo com 100% de aceleração, cada desacelerada que se dava, era nítido a aproximação do grupo… Como as velas estavam muito iguais, a maior distância que se conseguia, era muito pequena, e a necessidade de acelerar 100% era eminente para manter o ritmos imposto por todos… Quem tem um piloto a frente pode modificar sua linha e tentar ganhar em altura, ja que a aceleração estava muito parecida… Ficamos um grupo muito baixo, com o Felipe liderando uns 300m a minha frente juntamente com Frank um pouco mais aberto e embolados, eu, Gustavinho, Richard, Kotoco, Alfio, Bafinho, Tony, Brett, mais uns 10 pilotos… As velas iguais tb fazem facilmente você confundir quem está com você… Quando começamos a sair do buraco condição forte iniciando, um giro mais centralizado pode te dar 100m de altura o mais, o que te da possibilidade de dar o ultimo sprint pro goal antecipado… O Felipe Rezende aproveitou e saiu já com uns 200mts na frente do grupo que ralava e ainda não tinha altura pra chegar… O Tony também pois começou a bombar tudo nos ultimos 3Km pro end of speed section… Sai para não perde-los sem a com a certeza de ter que continuar subindo para chegar e acredito que todos os outros também. Então aproveitando esta pequena diferença de altura a com aceleração entre 100 a 80%… Como Toni tinha um pouco menos de altura que eu, percebi que poderia ganhar sua posicão (segundo ou terceiro lugar) e não perder a minha, se mantivesse o 100%… Quando estava a 700m do End of Speed com o Toni uns 50m abaixo e a frente, o vi tomar um pequeno front e imediatamente tirar o pé, e já me prepa…..Não deu mais tempo de preparar nada… Tinhamos aproximados 200m de altura, e contávamos com a condicão pra fechar o End of Speed e continuar subindo para cumprir os ultimos 2Km até o raio do Goal… O front foi tamanho e a reabertura já foi somente de 30% da vela atrás de mim… Estes 30% que reabriram, passaram sobre mim girando no próprio eixo provocando 2 twist, e sem comando estabilizaram “over the noise”, com o ataque pra baixo, já inciando uma espiral do conjunto…. Decisão imediata, retirei o reserva e só não o joguei de pronto, pois a vela em giro, poderia pegar o reserva. Fração de milisegundos, passou a vela, lancei o reserva, abriu, um pendulo, dois, chão… De que adiantaram os segundos, que ganharia ou a posição… Muito pouco… Fiquei a 700 do End of Speed, perdi todos os pontos de liderança conseguidos… Mas o melhor foi sair ileso novamente… Competição é casca, o limite entre o Sucesso e o Abuso é muito tênue… Mas, enfim, é do que a gente gosta.