Avaliação Meteorológica by Lucas Machado.

Feb 10, 2018 No Comments by

São muitas as ocasiões em que amigos me pedem previsões do tempo para dias específicos, ou me perguntam como foi que eu consegui acertar algum prognóstico que porventura tenha divulgado. Tentarei responder como utilizo as ferramentas disponíveis para se avaliar as condições envolvidas na prática do voo livre na rampa da Serra da Moeda.

Antes porém, cabe ressaltar que já dediquei um tempo considerável a estas avaliações, que têm se tornado cada vez mais acuradas, breves e objetivas, melhorando a cada avanço proporcionado pelas novidades tecnológicas. Outro fator que contribui para esta compreensão é a minha experiência acumulada ao longos de mais de 30 anos de voo, que aqui compartilharei.

Deixemos de lado alguns conceitos, que mais interessam aos meteorologistas do que aos voadores, tais como: lapse rate, curva adiabática, linhas isobáricas, lifted index, carta sinótica, bulbo úmido, vorticidade, divergência, linhas de corrente, cisalhamento, entre outros e partamos para questões práticas que nos interessam mais diretamente.

São duas as maneiras de se obter informações sobre o clima: 1) através de modelos prognósticos e 2) do monitoramento dos dados em tempo real. Os modelos prognósticos atuais são basicamente programas de computador, criados pelos serviços de meteorologia, onde cada um deles pode desenvolver seu próprio software. Estes programas são abastecidos por dados climáticos fornecidos pelas várias estações espalhadas ao redor do mundo, que se comunicam em rede e geram previsões para os próximos dias. Já o monitoramento em tempo real é feito acessando-se os dados e/ou imagens divulgados naquele exato instante em que estão ocorrendo.

Os modelos prognósticos levam em consideração os dados de estações remotas, que informam sobre a temperatura ambiente, o ponto de orvalho (temperatura na qual o vapor d’água se condensa), a umidade do ar, a direção e velocidade do vento, a intensidade da irradiação solar, a ocorrência e quantidade de chuva, além da pressão atmosférica. Estas medidas são feitas em intervalos de tempo pré determinados e ficam registradas as médias durante aquele período, bem como o pico atingido naquele intervalo por cada parâmetro monitorado. Além destes dados, o programa leva em consideração os modelos previamente gerados, o grau de acerto em relação ao que foi previsto e o que realmente ocorreu, as cartas sinóticas com suas linhas de pressão, imagens de satélite que contemplam vapores de água e, principalmente, sondagens atmosféricas, como veremos. Tudo isto é abastecido automaticamente e o meteorologista responsável faz uma crítica ao modelo gerado antes de publica-lo, podendo alterar ou descartar parâmetros que considere discrepantes ou fora da curva.

O grande problema é que quando um modelo é publicado ele já está defasado, devido ao grande dinamismo dos eventos que ocorrem sobre nossas cabeças. Sendo assim, quando a “moça do tempo” informa a previsão no jornal da manhã, ela o faz através de um boletim que foi entregue nas primeiras horas do dia, por um serviço concluído na véspera, baseado em dados obtidos ao longo da tarde do dia anterior. Desde então, muita coisa já aconteceu e a possibilidade de o prognóstico estar correto diminui consideravelmente, embora um empenho em atualizar a previsão antes de ir ao ar tenha sido notado.

Outro problema de se fiar em modelos prognósticos está na sua abrangência. Serviços de meteorologia se ocupam de informar a uma grande parte da população, atendo-se a uma avaliação do macroclima, o mais amplo e genérico possível. Um boletim dizendo que a previsão é de “céu nublado a parcialmente nublado com possibilidade de chuvas esparsas na região” não nos diz absolutamente nada. A última prioridade deles, se é que ela existe, é atender aos interesses de uma pequena comunidade, que tem por hábito se atirar do alto de uma montanha, suspensos por linhas da espessura de um fio dental, amarradas a 25 metros quadrados de pano. Para nós, o que importa é a condição em um local específico, influenciada por um vale adiante, por uma lagoa no platô de trás, pelas curvas do relevo ao redor e todos os outros fatores que afetam diretamente nosso microclima.

Como exemplo de modelos prognósticos temos os meteogramas (CPTEC -http://previsaonumerica.cptec.inpe.br/) e INMET – http://www.inmet.gov.br/meteogramas/?P=P4&E=MG&C=MG-00230), os sites de serviços que divulgam os seu modelos (MBAR do INMET – http://www.inmet.gov.br/vime/?P=P1, Wunderground – http://www.wunderground.com/cgi-bin/findweather/getForecast?query=zmw%3A00000.1.83587 e Accuweather – http://www.accuweather.com/en/br/brumadinho/39375/weather-forecast/39375?p=accuweather), o Windy (https://www.windy.com/-20.195/-43.979?-21.366%2C-43.979%2C7%2Cm%3Ac5vaeVR), o Meteoblue (https://www.meteoblue.com/en/weather/forecast/week/-20.180N-43.968E) e o XC Skies (http://www.xcskies.com/map), um site voltado especificamente ao voo livre, que reúne os diversos modelos prognóstico e os divulga tendo como referência os parâmetros mais relevantes envolvidos em nossa atividade. Este sim, um serviço dedicado aos voadores, feito por um voador, que também é meteorologista.

Já pelo monitoramento em tempo real acessamos os dados no exato instante em que eles sendo colhidos. Aqui não se trata de previsão, como nos modelos prognósticos, mas de constatação. As estações meteorológicas online fornecem os dados captados por anemômetros, higrômetros, bulbos seco e úmido, termômetros, barômetros, radiômetros e pluviômetros. Pelo Sonabra (http://www.inmet.gov.br/sonabra/maps/automaticas.php) é possível localizar a estação mais próxima de sua rampa. A estação mais próxima da rampa da Moeda está na Serra do Rola Moça (http://www.inmet.gov.br/sonabra/pg_dspDadosCodigo.php?QTU1NQ=%3D). Outra estação recentemente instalada em nossa proximidade é a do Alphaville (http://www.wunderground.com/weatherstation/WXDailyHistory.asp?ID=IMGNOVAL2).

Pelos dados da tabela podemos tirar algumas conclusões, levando-se em consideração algumas premissas: 1) que o horário informado é UTC, ou seja, 3 horas a mais que o horário de Brasília e 2) a estação do Rola moça está a 1200 metros de altitude e a do Alphaville a 1300m. Assim, considerando que o ar esfria 1 grau a cada 100 metros que sobe (razão adiabática seca), se diminuirmos a temperatura ambiente da temperatura do ponto de orvalho e multiplicarmos por 100, saberemos a que altitude a nuvem está se formando sobre aquela estação. Outra inferência aceitável é que uma grande diferença entre a velocidade média do vento e a velocidade da rajada denota intensa atividade termodinâmica.

Além das estações públicas ainda existem as estações particulares, que alguns clubes de voo instalaram em suas rampas, como a do Pico do Gavião em Andradas (http://www.picodogaviao.esp.br/meteo/).

Webcams que enquadram as birutas das rampa também são de grande valia na observação das condições em tempo real, como a do CVLBH, que requer aplicativo próprio e senha para sócios.

Outra maneira de se monitorar o clima em tempo real é através das imagens de satélite. Embora estas imagens sejam obtidas a determinados intervalos de tempo, ainda assim é possível se ter uma boa noção do que ocorre nos céus. Tanto podemos ver a última imagem fornecida, como podemos avaliar como se formou aquela condição, pelas imagens anteriores rodadas em sequência, criando uma animação. Meus satélites favoritos são o do Climatempo (http://www.climatempo.com.br/satelite), os da REDEMET (https://www.redemet.aer.mil.br/) e do INMET(http://www.inmet.gov.br/satelites/?area=0&produto=GO_br_VPR&ct=1), embora vários outros serviços também forneçam boas imagens.

Outro modo de se monitorar nossa atmosfera é através da radiossondagem, que eu considero o “padrão ouro” em termos de informação, pois nos oferece uma espécie de fotografia da troposfera, impossível de se avaliar a olho nu. A radiossondagem é feita pelo lançamento de um balão (o famoso balão meteorológico, vez ou outra confundido com OVNI’s) contendo uma sonda que carrega no seu interior todos os instrumentos de uma estação meteorológica, além de um rádio transmissor e um gps, que envia os dados obtidos, à medida que se eleva rumo ao limite superior da troposfera, na casa dos 17 mil metros de altitude. Mas isso é assunto pra um outro texto.

Lucas Machado

Voo Livre

Sobre o Autor

Instrutor de Asa Delta | Parapente pela Confederação Brasileira de Voo Livre "CBVL" e Paramotor | Paratrike pela Confederação Brasileira de Paramotor "CBPM" | APPI PPG.
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